
SINGULARIDADE E NOTORIEDADE EM SÍTIOS CLASSIFICADOS - TENDÊNCIAS E DESAFIOS

Um dos princípios gerais da classificação de um sítio com o estatuto de Património Mundial passa pelo reconhecimento da sua relevância extra local, mas resulta também das especificidades que cada um desses bens apresente.
Ainda que suscetível de ser integrada em redes mais vastas, essa individualidade estará a jusante da sua localização geográfica específica mas também dos valores materiais e imateriais simbolizados pelo lugar.
De uma forma ou de outra, os sítios já classificados e protegidos, assim com aqueles com potencial para integração futura nesta rede da UNESCO constituem um laboratório de excelência em termos de análise de conteúdo da paisagem, de estudo e recolha de elementos que sinalizem e justifiquem essa distinção, questão estratégica numa dinâmica global que apresenta alguns riscos de uniformização de processos e padrões espaciais.
NOVO TURISMO E A RELAÇÃO COM O PATRIMÓNIO HISTÓRICO MATERIAL E IMATERIAL - GASTRONOMIA, VINHOS, RELIGIÃO

Alguns elementos considerados de menor importância na sua capacidade de atração dos turistas em relação aos destinos turísticos jogam, hoje, um papel central, dificilmente perceptível há alguns anos atrás no âmbito do turismo cultural. Assim sucede com a procura turística enogastronómica.
Também é visível uma modificação da estrutura da oferta de alguns produtos que durante muito tempo se encontraram centrados em ofertas massificadas, como sucede com o turismo religioso.
Acontece, na atualidade, uma conjugação entre uma atração associada a lugares de peregrinação, tendencialmente massificados, caso de Fátima, em Portugal, com uma outra que se baseia numa procura mais cultural, monumental, crescentemente presentes na Lista de Patrimónios da UNESCO.
Qualquer uma das tipologias de turismo referidas oferece ao visitante a possibilidade de melhor conhecer a cultura, os costumes, as tradições e as histórias dos lugares e das personalidades, de uma forma muito agradável, com frequente superação das expetativas e valorização da experiência.
A procura insistente, que se vai sentindo naquilo que podemos denominar por turismo alternativo, de nicho, criativo – o novo turismo -, tem nos produtos alimentares e no alimento para o espírito (as religiões) a forma ideal de exploração das expressões culturais dos territórios, da presença singular de festividades gastronómicas e religiosas.
Num e noutro caso, os lugares e motivos de devoção (igrejas, santuários, arte religiosa, santos, frades e freiras, no caso do turismo religioso; terroirs, produtos gourmet, confeções singulares, adegas, vindimas, vinhos, restaurantes e chefes de culinária, no caso da gastronomia e vinhos) transformaram-se em elementos atratores que motivam crescente envolvimento de reguladores, organismos, instituições e investigadores. Combinam-se sob a forma de produto turístico, suscitam movimentos de confrades, são objeto de celebração e promoção em eventos locais, regionais, nacionais e internacionais.
Neste sentido, promover estas temáticas é valorizar a cultura, o turismo e o desenvolvimento, permitindo o seu estudo dar especial significado à relação entre o património e as novas tendências do turismo.
GESTÃO DE DESTINOS E SUSTENTABILIDADE EM SÍTIOS PATRIMÓNIO MUNDIAL

A gestão dos destinos turísticos assume particular importância quando se está na presença de sítios inscritos na Lista representativa do Património Mundial da Humanidade. Nestes destinos a gestão sustentável afigura-se complexa face à quantidade, à diversidade, à singularidade e à raridade do património em presença. O valor universal excecional dos bens inscritos concorre para um crescimento exponencial da procura turística, realidade que lança novos desafios à gestão sustentável dos destinos turísticos.
Neste âmbito impõe-se conhecer os problemas de gestão, partilhar experiências e refletir sobre as melhores práticas de planeamento e gestão sustentável das atividades turísticas nos Sítios Património Mundial.
Entre estas incluem-se as estratégias de conservação e de preservação do património; de integração e de participação dos diferentes agentes e grupos de interesse; da capacitação da comunidade local residente e dos agentes públicos e privados, ligados ao turismo e ao património; do estabelecimento de processos de cooperação e de colaboração, de parcerias e de redes; de gestão e monitorização dos visitantes; de interpretação e de promoção dos destinos; de modos criativos e inovadores de estruturar e qualificar a oferta e de valorizar a experiência turística.
O turismo responsável é fundamental para preservar os valores e o espírito do lugar e salvaguardar os Sítios Património Mundial.
Neste contexto os diálogos entre o turismo e o património, que se esperam promover, são fundamentais para a eficácia das ações locais e para a sustentabilidade dos destinos turísticos que têm no Património Mundial um fator de competitividade.
ANIMAÇÃO TURÍSTICA E EVENTOS CULTURAIS

A animação turística, enquanto conjunto de atividades centradas nos recursos de um determinado território que são planeadas e implementadas com vista a estimular e facilitar uma maior e mais intensa participação dos turistas, é uma componente fundamental da diferenciação da oferta de um destino turístico.
Os eventos culturais fazem parte das novas estratégias de posicionamento dos territórios no mercado competitivo do turismo e desempenham também um papel relevante na promoção das suas singularidades, as quais estão na génese de diferentes processos de classificação/proteção patrimonial.
O aumento da exigência e da experiência dos turistas, por um lado e o crescimento e a diversidade dos Sítios Património Mundial, por outro, justificam o interesse renovado destas temáticas na amplitude dos programas de animação e dos eventos com efeitos concretos nos destinos turísticos de reconhecida relevância patrimonial.
AS NOVAS TECNOLOGIAS NA INVESTIGAÇÃO E NA GESTÃO TURÍSTICA

Vivemos num mundo crescentemente tecnológico. Esta ideia é um lugar-comum, mas é também uma realidade incontornável e o corolário lógico de uma longa e intrincada evolução que, no mais profundo do seu âmago, remonta à raiz da própria natureza humana e à sua capacidade para se organizar e identificar como comunidade.
Nesta nossa tecno-sociedade, sobretudo após o advento da era digital e da Internet, a ideia de comunidade passou a concretizar-se numa escala verdadeiramente universal.
No entanto, a globalização, contrariamente ao expectável, veio acentuar as dimensões locais e regionais dos fenómenos. No domínio do Turismo, isso não foi exceção: as identidades locais opõem-se à tendência para a uniformização, constituindo fatores de competitividade dos territórios.
Num tempo-espaço dominado pela conectividade e orientado por lógicas de raciocínio coletivizado em redes sociais, são muitos os desafios que se levantam na investigação em Turismo, mas são igualmente enormes os desafios e as incertezas que se colocam ao nível do planeamento e da gestão das atividades turísticas.
GESTÃO DO PATRIMÓNIO DE INFLUÊNCIA PORTUGUESA NO MUNDO

A lista de Sítios Património Mundial de origem portuguesa é caraterizada pela descontinuidade espacial, por localizações geográficas muito diversificadas e pelo enquadramento em contextos sociais, culturais e políticos também diferentes, posicionados em territórios com trajetórias de desenvolvimento também estas diferenciadas. Daqui resultam desafios muito particulares no processo de gestão destes valores patrimoniais.
Por um lado, sustentando as conetividades e filiações de memória que suportam esta rede, em particular a herança portuguesa que é matriz deste conjunto de bens classificados.
Por outro, trabalhando o enquadramento espacial específico de cada um dos nós ou vértices deste conjunto.
Para além dos princípios gerais de sustentabilidade e garantias de perenidade de longo prazo associados à gestão de qualquer lugar classificado pela UNESCO, o futuro desta rede poderá passar pelo balanço e equilíbrio entre este sentido de pertença a uma memória de conjunto e a devida contextualização local e regional de cada um desses valores.
TERRITÓRIO, ROTAS TURÍSTICAS E PAISAGENS CULTURAIS

Ao longo dos últimos anos o território tem vindo a assumir-se como elemento fulcral das temáticas turísticas. Isto sucede porque ele consegue congregar os valores da identidade dos lugares, da autenticidade das práticas, das comunicações tecnológicas globais e da diversidade e diferenciação culturais, suportes de sustentabilidade e de notoriedade.
Todos estes valores, simultaneamente fatores de atração para qualquer destino turístico, encontram uma sólida expressão na organização de formas de experimentação e participação no quotidiano dos lugares e de aproveitamento dos recursos do território, através de rotas que resultam de uma cooperação entre os stakeholders locais e regionais.
Estas rotas, claramente ancoradas em elementos paisagísticos, naturais ou construídos, encontram nos elementos culturais (tangíveis e intangíveis), na história, nas práticas tradicionais e na socioeconomia específica dos territórios, uma valorização superlativa. Este conjunto de características apresenta-se especialmente dotado para dar resposta a uma procura crescente de novos turistas em busca de formas alternativas de turismo, de experiências de rotura com o seu quotidiano, de contacto com tradições esquecidas e de aventuras em lugares inusitados.
Este tópico propõe-se integrar os textos que possam ter na afinidade entre os recursos do território, a motivação da visitação e a identidade cultural o centro da sua abordagem.